(Via Folha de São Paulo) Os Estados Unidos (EUA) e a China chegaram a um acordo para reduzir temporariamente as tarifas recíprocas, enquanto as duas maiores economias do mundo buscam encerrar uma guerra comercial que tem alimentado temores de recessão e deixado os mercados financeiros em alerta.
Como parte de um acordo firmado em Genebra durante o fim de semana, os EUA reduzirão de 145% para 30% as tarifas adicionais sobre produtos chineses (10% de taxa básica, mais 20% relacionados ao tráfico da droga fentanil).
A China, por sua vez, diminuirá as taxas sobre importações americanas para 10% (são 125% hoje). O país asiático também disse que irá suspender ou cancelar medidas não tarifárias tomadas contra os EUA.
“Ambos os países representaram muito bem seus interesses nacionais”, disse o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, nesta segunda-feira (12). “Ambos temos interesse em um comércio equilibrado, os Estados Unidos continuarão avançando nessa direção.”
“Esta medida atende às expectativas de produtores e consumidores, alinhando-se com os interesses de ambas as nações e o interesse global comum”, disse o ministério do Comércio da China.
As ações globais estenderam seus ganhos após o anúncio, com os futuros do S&P 500 subindo 2,8%, e o dólar americano subindo 1,2% contra uma cesta de moedas pares. O euro, por exemplo, caiu 1% em relação à moeda americana, para US$ 1,11. O ouro, um ativo de refúgio, registra queda de 3,3%.
Bessent falou ao lado do representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer, após as conversas do fim de semana na Suíça, nas quais ambos os lados celebraram o progresso na redução das diferenças.
“O consenso de ambas as delegações neste fim de semana é que nenhum lado quer um desacoplamento [das economias]”, disse Bessent. “E o que ocorreu com essas tarifas muito altas foi o equivalente a um embargo, e nenhum lado quer isso. Nós queremos comércio.”
As reuniões em Genebra foram as primeiras interações presenciais entre altos funcionários econômicos dos EUA e da China desde que Donald Trump retornou ao poder e lançou uma ofensiva tarifária global, impondo taxas particularmente pesadas à China.
Desde que assumiu o cargo, em janeiro, Trump havia aumentado as tarifas pagas pelos importadores americanos para produtos da China para 145%, além daquelas que ele impôs a muitos produtos chineses durante seu primeiro mandato e das taxas aplicadas pela administração Biden.
A China revidou impondo restrições à exportação de alguns elementos de terras raras, vitais para fabricantes americanos de armas e produtos eletrônicos de consumo, e aumentando as tarifas sobre produtos americanos para 125%.
A disputa tarifária paralisou quase US$ 600 bilhões em comércio bilateral, interrompendo cadeias de suprimentos, despertando temores de estagflação e provocando algumas demissões.
“Isso é melhor do que eu esperava. Pensei que as tarifas seriam reduzidas para algo em torno de 50%”, disse Zhiwei Zhang, economista-chefe da Pinpoint Asset Management em Hong Kong.
“Obviamente, esta é uma notícia muito positiva para as economias de ambos os países e para a economia global, e faz com que os investidores fiquem muito menos preocupados com os danos às cadeias de suprimentos globais no curto prazo”, acrescentou Zhang.
Após as conversas de domingo, autoridades americanas anunciaram um acordo para reduzir o déficit comercial dos EUA, enquanto autoridades chinesas disseram que os dois haviam chegado a um consenso importante e concordado em lançar outro novo fórum de diálogo econômico.
Trump fez uma leitura positiva das conversas antes que elas fossem concluídas, dizendo que os dois lados haviam negociado “uma redefinição total… de maneira amigável, mas construtiva.”
O presidente dos EUA impôs as tarifas em parte após declarar uma emergência nacional devido ao fentanil que entra nos Estados Unidos, e Greer disse que as conversas sobre a redução do opioide mortal foram “muito construtivas”.
O vice-primeiro-ministro chinês He Lifeng foi menos categórico em suas declarações, mas ainda assim saudou o “progresso substancial” após as conversas realizadas na vila privada e cercada do embaixador suíço nas Nações Unidas, com vista para o lago Genebra.