A Covid-19 ainda é uma doença muito nova para a comunidade científica. Embora especialistas em todo o mundo pesquisem a respeito de suas complicações, ainda não é possível determinar quais seriam os efeitos a longo prazo do vírus no ser humano.
Porém, os pesquisadores da área observaram uma relação muito forte entre a doença causada pelo coronavírus e complicações cardíacas em pacientes infectados pelo vírus. Tendo isso em mente, o médico goiano Marcos Perillo Filho, especialista em cardiologia, criou um protocolo para atletas profissionais recuperados de Covid-19.
O esporte de alto rendimento exige muito das funções cardíacas dos atletas e há um agravante para os mesmos. “Se a lesão cardíaca ocorrer de forma assintomática, o atleta, ao treinar ou jogar, expõe o coração à alta carga de trabalho e estímulo, o que pode desencadear arritmia maligna, e, consequentemente, morte súbita”, alerta Marcos.
O cardiologista trouxe dados que apontam que a inflamação no coração (miocardite) é responsável por uma porcentagem entre 5-22% das mortes súbitas cardíacas em atletas. Além disso, 23% das mortes súbitas por miocardite acontecem durante o exercício.
Primeiros testes
Os primeiros acordos para testes foram realizados com equipes de futebol da Capital goiana, que abriram as portas para a equipe de pesquisadores: Aparecidense, Goiânia e Vila Nova. O cardiologista fez questão de ressaltar a importância do gesto para a pesquisa científica no País. “Quando a gente recebe esse tipo de colaboração do pessoal, mostra uma sensibilidade por parte dos clubes, que abriram a porta para a pesquisa científica de saúde”.
Segundo o médico, a equipe do Goiânia Esporte Clube foi a primeira a ser atendida, por questões de calendário, e demonstraram uma incidência baixa de contaminações. ”Apenas 14 jogadores foram infectados, a maioria deles de forma assintomática ou leve e pouco tiveram de forma moderada”.
Marcos Perillo afirma que ainda é cedo para quaisquer conclusões a respeito da pesquisa, mas que há uma suposição levantada pela equipe de que os atletas de alto rendimento possuem maior resistência ao vírus, correndo assim menos riscos ao se contaminar.
Protocolo
A proposta do médico goiano é que os atletas acometidos por Covid-19 retornem às suas atividades somente após completa avaliação cardíaca, de acordo com a gravidade do caso.
Pacientes assintomáticos ou com sintomas leves, por exemplo, depois de concluírem os dez dias de isolamento, deveriam ficar mais sete em repouso. Voltar para a rotina normal de treinos e partidas, somente se for de forma gradual. “E após a liberação pelo cardiologista ou médico do esporte, no caso de apresentar exames, como o eletrocardiograma e o teste de esforço, normais”, detalha Perillo.
Já em casos considerados moderados ou graves, que envolvam hospitalização, a recomendação é que o jogador, após período de isolamento e repouso, realize uma investigação ainda mais detalhada com o cardiologista.
O diferencial de seu protocolo, pontua o cardiologista, será a avaliação dos jogadores com testes de esforço, que simulam o estresse a qual o coração é submetido durante os jogos, além de estudo por Ressonância Magnética Cardíaca (RMC) nos casos que demonstrarem alterações que demandem maior atenção.
Marcos Perillo também ressalta que o protocolo é funcional para qualquer área do esporte em alto rendimento, não se limitando apenas ao futebol.
Pesquisa futura
Além do trabalho desenvolvido pela equipe goiana, Marcos explica que o estudo deve ser replicado em São Paulo, com uma abordagem maior. “Essa pesquisa envolve os principais hospitais da cidade, que vão avaliar jogadores de clubes de São Paulo, com mais recursos”, pontua.
