O projeto Nativos do Araguaia realizou, entre os dias 26 de setembro a última quinta-feira (2) a captura e transferência de cinco espécies do Rio Araguaia para a estação de piscicultura da Universidade Federal de Goiás (UFG). Entre os animais transportados estão: piraíba, mandubé, barbado, surubim-chicote e piau-flamengo. Um dos principais objetivos da iniciativa, que é realizada há três anos, é desenvolver protocolos de reprodução assistida de espécies nativas.
Coordenado pelo médico veterinário Matheus Ferreira, o projeto prevê a criação de um banco genético e futuras ações de repovoamento em lagos e reservas indígenas. “Tentamos abranger o máximo de espécies possíveis para o plantel. Levamos quase todas as espécies de maior relevância do Araguaia”, explicou o médico.
Matheus explicou que os peixes recém-chegados passarão por um período de adaptação de 30 dias, sem qualquer intervenção, para se recuperarem do estresse da captura e transporte. “Manter esses peixes em cativeiro abre portas para diversos outros tipos de pesquisas”, acrescentou.
Se obtiver sucesso na reprodução, o projeto poderá contribuir não apenas para a conservação, mas também para a inserção dessas espécies no mercado comercial de pescado. “A partir do desenvolvimento de protocolos reprodutivos, conseguimos avançar em diversas frentes, como inserir esses peixes, por exemplo, no mercado de carne”, reforçou Matheus.
Entenda o projeto
O projeto Nativos do Araguaia reúne atualmente mais de 50 pessoas ao longo de sua execução, incluindo cinco alunos de pós-graduação, três professores e pesquisadores de universidades federais, 20 estudantes de cursos de graduação (veterinária, zootecnia, agronomia e biologia), seis guias de pesca e 10 colaboradores.
Segundo Fernanda de Paula, zootecnista e doutora em Ciência Animal, a iniciativa teve início em 2022, com a aplicação de questionários para levantamento de dados sobre a produção pesqueira, além de aspectos sociais e econômicos da região. “Em 2023, conseguimos acesso às fichas de desembarque pesqueiro das associações de pescadores do estado de Mato Grosso que utilizam o Rio Araguaia em suas atividades. No mesmo ano, iniciamos as capturas e reproduções das espécies, com posterior soltura de formas jovens em lagos localizados em reserva indígena, além do monitoramento dessas espécies”, explicou.
A ideia do projeto surgiu a partir de uma parceria com a Codevasf, que incentivou a reprodução de algumas espécies de peixes para o peixamento de lagos não conectados diretamente ao rio. “A partir dessa demanda, estudamos e desenvolvemos protocolos de reprodução em laboratório para diversas espécies da bacia do Araguaia”, disse Fernanda.
Ao longo do projeto, foram realizadas seis expedições de captura, a primeira em outubro de 2023 e a última em setembro de 2025. Todas as coletas ocorreram na região hidrográfica do Araguaia, nas cidades de Aruanã (GO), Itacaiu (GO), Cocalinho (MT) e Bandeirantes (GO).
Mais de 60 exemplares foram levados para o Setor de Aquicultura da UFG, representando 15 espécies de peixes, entre elas piraíba, pirarara, cachara, mandubé, barbado, bargada, curimba, matrinxã, caranha, jaraqui e piau.
Fernanda, uma das idealizadoras do projeto, destacou que todo o trabalho envolve não apenas a captura e reprodução, mas também ações de monitoramento e preservação, reforçando a importância da pesquisa para o desenvolvimento sustentável da região.